segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mar Adentro

Título Original: Mar Adentro
Lançamento: 2004 (Espanha)
Duração: 125 minutos
Direção: Alejandro Amenábar


      
        Mar adentro conta a história verídica de Ramón Sampedro, um espanhol que ficou tetraplégico após um mergulho. Ele viveu 29 anos após o acidente sendo cuidado por seus familiares e lutando pelo direito de “morrer dignamente”. 
        Seu caso foi levado aos tribunais em 1993 para conseguir a legalidade da eutanásia, mas o pedido foi negado. Em uma carta destinada aos juízes em 1996, ele trata de uma idéia que aparece repetidas vezes no filme: “viver é um direito, não uma obrigação”. Assim, Ramón coloca em cheque a regulação da vida e da morte pelo Estado e pela Igreja e acusa “a hipocrisia do Estado laico diante da moral religiosa”.
        O debate com a igreja sobre eutanásia aparece no filme na figura de um padre, também tetraplégico, que resolve visitar Sampedro após ver sua história na televisão. Ao chegar na casa o padre não consegue passar pela escada que leva ao quarto de Ramón, pois ela é muito estreita para a cadeira de rodas. Os dois comunicam-se com a ajuda de um seminarista, que corre para cima a para baixo repetindo as falas com uma expressão tensa, ansiosa e confusa. Até que o padre e Sampedro passam a conversar exaltados e sem mediação, de um lado falando-se da importância de manter a vida, de outro, denunciando-se que a Igreja Católica não tem moral para falar de respeito à vida depois da Inquisição.
        O personagem de oposição direta ao padre é a advogada Julia, que surge para defender o caso de Sampedro. Por um lado temos o padre, que pelo seu estado físico e representando a Igreja, parece ter legitimidade para tentar dissuadir o protagonista da idéia de eutanásia. Por outro, temos a advogada Júlia, portadora de uma doença degenerativa hereditária que conduz à invalidez e demência com o passar do tempo, procurando trazer a discussão e a legitimação do caso para o plano racional e não dogmático. Júlia também mostra ao espectador as poesias, as viagens e a vida de Sampedro antes do acidente. Ajuda ele a escrever um livro, partilham com ele um cigarro e as angústias, trocam afeto, frustrações e a busca pelo direito de morrer.
        Quando em 1998, Ramón consegue encontrar, na figura da personagem Rosa, “alguém que realmente o ame e o ajude a morrer”, deixa um testamento concluindo o argumento da vida como obrigação, e aliando a ela um debate das tensões e das questões de poder que permeiam a vida e a morte: “Srs. jueces, negar la propiedad privada de nuestro propio ser es la más grande de las mentiras culturales. Para una cultura que sacraliza la propiedad privada de las cosas – entre ellas la tierra y el agua – es una aberración negar la propiedad más privada de todas, nuestra Patria y Reino personal. Nuestro cuerpo, vida y conciencia. Nuestro Universo".

        A obra recebeu 14 prêmios Goya, dois prêmios no European Film Awards, um Grande Prêmio do Júri e um Volpi Cup de melhor ator para Javier Bardem, que interpreta o protagonista.  Também recebeu um Oscar, um Globo de Ouro e um Independet Spirit Award, todos os três na categoria de melhor filme estrangeiro.


Por: Maria Carolina P. Alves

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