segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A questão da morte - II

        Como foi dito anteriormente, a sociedade não tem nenhum interesse em pessoas se suicidando por aí. Na verdade o que temos que fazer é continuar vivendo, produzindo, gastando, comprando até que não haja mais nenhum fôlego em nosso corpo. Aí sim podemos morrer. Se uma pessoa tenta se suicidar e falha, logo é conduzida para algum tipo de tratamento, que tem o principal objetivo de convencer essa pessoa a continuar vivendo. Se alguém é visto prestes a pular de um prédio, logo as autoridades são chamadas para impedir que aquela pessoa concretize sua vontade.
        Os tratamentos disponíveis para pessoas com tendências suicidas podem ser considerados legítimos. Vemos casos de pessoas que já quiseram se suicidar, foram impedidas, submetidas a tratamento e hoje são gratas por essa intervenção e por ainda estarem vivas.
        Existem vários motivos pelos quais uma pessoa decide acabar com sua vida, e muitos desses problemas podem ser solucionados. Problemas psiquiátricos, biológicos, sociais podem ser evidenciados, e quando devidamente tratados, trazem uma melhoria de vida considerável para aquela pessoa, que obviamente estava passando algum tipo de dificuldade. Mas aonde se encontra o limite entre o solucionável e o não solucionável? Quem pode, do alto da sua subjetividade, dizer que determinado fato não é suficiente para alguém decidir que não quer mais viver? Quem pode decidir que o máximo já foi feito e simplesmente não há mais nada a ser tentado? Talvez seja exatamente pela dificuldade em estabelecer este limite entre o que é passível de tratamento ou não, ou até que ponto este tratamento é legítimo, que torna o suicídio e a vontade de morrer um tabu.
        É provável que o único que pode decidir isso é a própria pessoa. Nesse momento entramos em outro assunto, que diferentemente do suicídio, está sendo amplamente abordado na comunidade acadêmica, por ser algo ligado não somente com o íntimo do sujeito, mas também à bioética e à política: a eutanásia.
        A palavra eutanásia está ligada com o ato e a decisão, do paciente ou de seus familiares, em abreviar a dor provocada pelo estado em que se encontra esse individuo, por adiantar a sua morte. Hoje somente na Suíça e na Holanda a eutanásia é legal, embora já existam casos em outros países de pacientes que entraram com uma ação judicial para que a pessoa que lhes ajudassem a morrer não fosse penalizada. Alguns foram aprovados, outros não.
        O problema aqui é que, se tento cometer suicídio e não consigo, não serei presa por tentativa de assassinato. Mas, se por alguma razão não consigo me suicidar, mas ainda sim quero morrer, a pessoa que me ajudar a fazê-lo será penalizada como homicida. Pacientes tetraplégicos, em estado vegetativo, com graves doenças degenerativas, com patologias incuráveis e que provocam dores insuportáveis são exemplos de casos onde a eutanásia, ou o suicídio assistido, podem parecer a melhor solução. Mas quem deve decidir isso?
        Pacientes e familiares, em alguns casos, relatam que a morte para eles é o melhor caminho. Muitos até afirmam que é um ato de amor. Casos como o de Vincent Humbert nos fazem refletir sobre esse assunto. 
        Vincent era um jovem bombeiro que após um acidente ficou tetraplégico, cego e mudo. O único movimento que ainda lhe restava era o do polegar direito. Para se comunicar alguém lhe ditava todas as letras do alfabeto e ,quando a letra que ele quisesse utilizar fosse pronunciada, sinalizava por pressionar o polegar. Desde que aprendeu essa forma de comunicação pedia que lhe deixassem morrer, queria a eutanásia, pois para ele aquilo não era uma vida digna. Como ele morava na França, onde a eutanásia não é uma pratica legal, lhe recusaram o pedido diversas vezes. Assim, ele escreveu um livro intitulado “Eu lhe Peço o Direito de Morrer”. Antes mesmo de o livro ser publicado, sua mãe misturou à sua comida uma quantidade fatal de barbitúricos que provocou a sua morte.

Por: Maria Clara T. de Assis

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